Ações, Ações na Arena

Só Parente salva… BRF sobe 5% apesar de restrições da UE; UBS vê alta de 63% se crise passar

A crise da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, segue em ritmo de novela, com novos capítulos e reviravoltas a cada dia. Além da disputa pelo poder entre os acionistas, hoje a União Europeia determinou a suspensão da importação de carnes de 20 frigoríficos, 12 dos quais da BRF. Mesmo assim, o papel da empresa fechou em alta na B3, de 4,9%, a R$ 24,17. As constantes notícias ora positivas, ora negativas sobre BRF e eventos importantes no curto prazo, como a assembleia de acionistas dia 26 que vai definir o comando da empresa, levaram o UBS a traçar dois cenários para a BRF, um positivo, sem crise, e outro negativo, com tudo dando errado.

Na disputa interna pelo poder da BRF, prossegue a tentativa do empresário Abílio Diniz e seu fundo de participações Península de manter-se no controle, direta ou indiretamente, enquanto os fundos de pensão Previ, do Banco do Brasil, e Petros, da Petrobras, maiores acionistas, procuram afastá-lo, insatisfeitos após dois anos de fortes perdas e escândalos envolvendo a qualidade dos produtos da empresa. A última cartada de Abílio foi a inesperada convocação do atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, para presidir o Conselho de Administração da empresa. Ele fará parte da chapa que deverá ser eleita na assembleia do dia 26, semana que vem.

Parente, o bom de governança

Parente, que comandou o gabinete da crise de energia no fim do governo de Fernando Henrique Cardoso, tornou-se nos últimos anos um fiador de boas práticas para o mercado. Ele ajudou a Petrobras recuperar a credibilidade após os desmandos das gestões anteriores da estatal, que inclui um ex-presidente preso. E não deverá ter problemas em acumular a função na BRF com a de presidente da Petrobras, pois já fazia isso com o Conselho da B3. Na bolsa, teve participação importante na compra pela BM&FBovespa da concorrente Cetip, consolidando o controle do registro e negociação dos mercados de renda fixa, variável e derivativos brasileiros.

Comemoração curta

A proposta, que pode apaziguar momentaneamente os acionistas, saiu ontem depois do fechamento dos negócios, e fez o papel subir 10% na bolsa, mas foi logo ofuscada pelo anúncio da União Europeia de interromper a importação de carne de 20 frigoríficos brasileiros, 12 da BRF. A ação foi um desdobramento da  Operação Carne Fraca, que revelou falta de controles sanitários e subornos de fiscais, e foi reforçada em março deste ano com a Operação Trapaça, que detectou suborno também de laboratórios que faziam análises de contaminação das carnes in natura com a bactéria Salmonella.

Apesar de a BRF alegar que a contaminação não oferecia risco à saúde humana e que não atingia a produto exportado, os 28 países da União Europeia aproveitaram para pedir o embargo, favorecendo os produtores locais. O ministro Blairo Maggi prometeu que o país vai recorrer à Organização Mundial de Comércio (OMC).

Para o banco UBS, a BRF caminha com um passo a frente e dois para trás. A empresa continua no meio de uma avalanche de notícias que, pelo lado positivo, indica o fim do impasse entre os acionistas para definir o comando da BRF. Mas as restrições da União Europeia devem aumentar a oferta de frango no mercado interno e reduzir os preços e as margens da companhia.

Ações parecem atrativas, mas com risco no curto prazo

Para o UBS, as ações da BRF parecem atrativas pelo preço atual, com os progressos com relação ao comando da empresa, mas contratempos ainda devem pesar sobre os papéis. O banco suíço estima um preço justo de R$ 28,50, com a possibilidade de chegar a R$ 39,50 no cenário positivo caso os problemas entre acionistas se resolvam e a empresa retome seu crescimento, e de R$ 16,50 no negativo, caso as disputas internas paralisem a gestão e novas denúncias apareçam. No cenário positivo, a empresa teria uma alta de 63% sobre a cotação atual. No negativo, uma perda de 31,73%.

O banco recomenda manter o papel, diante dos riscos. A mesma opinião tem a Coinvalores, que lembra que mesmo que Abílio tenha indicado nomes fortes para o conselho em sua chapa, ela ainda será submetida à aprovação na reunião agendada para o dia 26 de abril. “Ou seja, mesmo com as notícias positivas, os riscos ainda são grandes em relação as suas ações, tendo em vista que seus resultados ainda estão bem ruins e as incertezas quanto a barreiras sanitárias ainda são grandes.”

Guide vê riscos, mas confia na empresa

Já a Guide lembra que o cenário para 2018 é ainda desafiador para a BRF. No Conselho, Parente não participará da gestão da empresa, e atuará focado nas decisões estratégicas da companhia. “Em nossa visão, é necessário cautela com relação a BRF, especialmente no curto prazo.”

A Guide estima uma geração de caixa operacional ainda fraca para a BRF em 2018, e não espera um primeiro trimestre animador. Os motivos são (i) recuperação gradual na demanda doméstica, somada ao ambiente competitivo; (ii) tendência de crescimento nos custos com milho; (iii) margens internacionais ainda pressionadas; (iv) estoques em níveis altos, especialmente na Ásia. “A deterioração do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida ou Ebitda) pode resultar em um crescimento (ainda mais acentuado) de sua alavancagem financeira – que atingiu 4,26 vezes o Ebitda no quarto trimestre do ano passado”.

Marcas líderes

Mesmo assim, a BRF ainda é dona das marcas mais valorizadas de alimentos, Sadia e Perdigão, e uma estrutura eficiente, apesar dos erros de gestão dos últimos dois anos, que permitiu o crescimento dos concorrentes. Uma grande ameaça é a concorrência da Seara, da JBS, mas o grupo também está com problemas por conta da operação Lava Jato, o que limita seu poder de fogo. E há o risco do impacto do próximo governo, se será capaz de continuar a incentivar a retomada do crescimento.

O megainvestidor Warren Buffett ensinou a aproveitar os momentos em que as empresas líderes passam por crises momentâneas para comprar os papéis. A questão é se essa crise é realmente temporária, ou se a empresa vai iniciar um processo de deterioração maior que o atual. Um processo que não interessaria aos seus principais acionistas, os fundos de pensão, e seus milhares de investidores, que dependem desses investimentos para se aposentar. Assim, se o potencial de ganho é grande, ele pode aparecer somente no longo prazo e com risco de ser menor ou não se realizar. Por isso a recomendação dos analistas de cautela para o investidor que quiser arriscar e diversificar um pouco em BRF, sem ir com muita sede ao pote.

 

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