Ações, Ações na Arena

Semana tem definições políticas, IGP-M, crédito, investimento estrangeiro, contas públicas e externas e balanços

A movimentação política promete ser o centro das atenções dos agentes de mercado nas próximas semanas, diante do início, na última sexta-feira, das convenções partidárias, e da formalização de candidaturas e alianças entre os partidos que disputarão a Presidência da República. Na economia local, todos estarão de olho já nesta segunda-feira no Boletim Focus, que traz as expectativas e revisões do mercado para variáveis que preocupam os analistas, como câmbio, inflação e desempenho do PIB. É possível que os desdobramentos políticos da semana passada apareçam nas projeções do mercado. Os mercados brasileiros terminaram a semana mais otimistas e podem manter esse ritmo nos próximos dias, se o cenário externo continuar ajudando.

Estarão no radar dos investidores na agenda doméstica a divulgação de indicadores de confiança do consumidor relativos a julho, apresentados entre terça e quarta-feira por Fundação Getulio Vargas (FGV) e Confederação Nacional da Indústria (CNI), respectivamente. Saem também, entre quarta e sexta-feira, dados sobre contas externas (junho),  de arrecadação fiscal e o resultado primário do governo central, referentes a junho, podendo ainda ser conhecidas informações sobre criação de empregos formais (junho), além do desempenho do crédito, saldo em conta corrente e investimento estrangeiro direto no país, relativos a junho.

De olho no IGP-M, que corrige o aluguel, e nos resultados das empresas

Na sexta-feira, será divulgado o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) de julho, que baliza contratos de aluguel, reajustes de tarifas públicas, planos de saúde e seguros de contratos mais antigos. Ao longo da semana, continua a temporada de balanços, trazendo resultados do segundo trimestre de companhias como Ambev, Pão de Açúcar e Bradesco, entre outras.

Operações de crédito e investimento estrangeiro direto

“Esperamos um saldo positivo em conta corrente”, destaca a equipe de analistas do BNP Paribas. Para a entrada líquida de Investimento Estrangeiro Direto (IED), o banco espera cerca de US $ 6,0 bilhões, contra resultado anterior de US$ 3,0 bilhões. Em 12 meses, o IED poderia chegar a US$ 64 bi, ou 3,0% do PIB, prevêem os economistas do banco francês. Já para o relatório de crédito, a expectativa da equipe é “ver sinais claros de mais apetite do setor bancário”.

Apoio do Centrão beneficia Alckmin; Bolsonaro é confirmado no PSL, sem vice

Na cena política, os desdobramentos da decisão (ainda não oficializada pelos diretórios) do grupo de partidos de centro-direita, denominado de Centrão, formado por DEM, PP, PR, PRB e SD, de apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República, estão no centro da pauta da semana. Outro evento importante foi a confirmação de Jair Bolsonaro como candidato a presidente na convenção do PSL no fim de semana,

Em pleno período das convenções, a agenda dos partidos concentra-se na costura de alianças, de olho principalmente na ocupação de espaços no Congresso e no futuro governo, caso do Centrão. E com indefinições no campo da esquerda, o mesmo ocorrendo com Jair Bolsonaro (PSL) e  Marina Silva (Rede).

Filho de José Alencar poderá ser vice-presidente do tucano

Com o apoio do Centrão, Alckmin mostra capacidade de articulação, pois já obteve a adesão do PTB e aguarda o posicionamento do PSD, além da possibilidade de ter como seu vice o empresário Josué Gomes (PR), filho de José Alencar — que foi vice-presidente nos dois governos Lula. A  possível indicação de Josué  daria mais peso político à chapa presidencial liderada pelo PSDB.

Isolado, Bolsonaro confirma candidatura, mas ainda sem vice

Os movimentos dessas siglas tiveram forte repercussão nas demais pré-candidaturas. A começar por novos indicativos de isolamento de Bolsonaro. O ex-militar, que teve sua candidatura homologada nesse domingo, sofreu desgaste por não conseguir, para ser seu vice, um nome de visibilidade nacional.

A convenção terminou sem a confirmação da advogada Janaína Paschoal como vice. A polêmica deputada, que foi uma das líderes do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, irritou partidários de Bolsonaro ao falar em seu discurso sobre o direito ao aborto e sobre liberdade religiosa diante de uma platéia de líderes evangélicos e políticos conservadores.  Janaína diz que ainda vai pensar sobre o convite para vice.

Já Bolsonaro voltou a criticar o acordo entre Alckmin e o Centrão, agradecendo ironicamente ao ex-governador por ter “unido a escória da política brasileira”. Ele afirmou que não é o “salvador da pátria” e que é o “patinho feio” desta eleição. Disse ainda que pretende unir os ministérios da Fazenda e do Planejamento e da Agricultura e do Meio Ambiente para “acabar com as brigas”. Disse ainda que é a favor de privatizar, mas que não gostaria que essa fosse a tônica do governo.

Ciro e Boulos têm nomes oficializados; PT continua com Lula e prepara plano de governo

Apesar de bem posicionada nas pesquisas, Marina Silva, segundo analistas políticos, deve caminhar somente com a Rede na eleição, embora tenha tempo para continuar as conversas, pois a convenção nacional está marcada para 4 de agosto.

Na esquerda, as expectativas no momento concentram-se principalmente em Ciro Gomes, nome do PDT já oficializado, que vê agora perspectiva de apoios somente à esquerda, sobretudo com PCdoB e PSB, ainda indefinidos. Já o PT, um dos alvos de Ciro, insiste na pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda preso em Curitiba. E busca formular seu plano de governo sob a coordenação do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad,  focando na recuperação da economia e reformas das instituições do país. Haddad é visto como o plano B do PT, apesar da forte resistência do partido em admitir que Lula não tem muita chance de concorrer pela condenação em segunda instância.

O PSOL, por sua vez, com o nome de Guilherme Boulos oficializado, deverá explorar a estratégia de representar um governo de esquerda, compromissado com a derrubada das reformas do governo de Michel Temer. Boulos fez menções a Lula, num esforço para atrair os eleitores do ex-presidente e servir de opção a Ciro na esquerda.

Meirelles e Rabello: ainda fora do eixo da disputa

Já o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) e o ex-presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro (PSC), carregando o peso de terem sido ligados ao governo Temer, continuam praticamente fora do eixo da disputa, segundo as pesquisas de intenção de voto. Meirelles, ainda pré-candidato, tenta projetar seu nome nas redes sociais. Já confirmado candidato, Rabello aposta em sua “experiência” como economista e presidente do banco de desenvolvimento para convencer os eleitores de que poderá fazer o país voltar a crescer e gerar empregos.

Na agenda internacional, destaque para PIB dos EUA e reunião do BCE

Na agenda internacional, desempenho e nível de atividade nos EUA e na Europa devem ser o foco da semana. Nos EUA, o PIB do segundo trimestre é o destaque, bem como a divulgação de encomendas de bens duráveis e dados imobiliários. Na Europa, saem os PMIs (Índice Gerente de Compras, na sigla em inglês), pesquisas de confiança e a decisão da taxa básica de juros do Banco Central Europeu (BCE); na Ásia, serão acompanhados os resultados da inflação no Japão.

Guerra comercial e política interna: fatores que afetam os mercados de risco

Alvaro Bandeira, economista-chefe da ModalMais, lembra que a semana anterior foi totalmente influenciada pelo noticiário externo e, em particular, pela acirrada disputa comercial entre Estados Unidos e os demais países, especialmente a China, que se agravou ao longo de todo o período. Houve ainda o encontro de Donald Trump e Vladimir Putin, que gerou celeuma internacional após o presidente americano contrariar os serviços de inteligência do país e negar interferência russa na eleição presidencial.

No Brasil, com o Judiciário e Legislativo em recesso, sobrou espaço para a divulgação de alguns indicadores de conjuntura e movimentações de pré-candidato disputando coligações para ampliar tempo de mídia e preparar as convenções, ressalta Bandeira.

A semana que se inicia, na visão do economista, deve ser crucial para a definição dos embates políticos da próxima eleição presidencial — fator a ser considerado pelos investidores, mas que se refere exclusivamente ao ambiente interno. “No cenário externo, a situação segue muito séria, e os investidores terão que equilibrar a melhora política com as disputas comerciais que estão se acirrando”, analisa.

Espaço para recuperação dos preços dos ativos na bolsa

Bandeira destaca a recuperação do mercado, que voltou para perto dos 80 mil pontos. “Pela análise técnica, seria bom se conseguíssemos ultrapassar o patamar de 78.500 pontos (no Ibovespa), com consistência; passar pela faixa dos 79.000 pontos, e buscar o novo objetivo, perto de 81.000 pontos”, diz. Para ele, existe muito espaço para recuperação dos preços dos ativos no mercado local, mas a situação de crise comercial internacional e incerteza política interna inibiriam isso. “Porém, é exatamente nesses momentos que surgem boas chances de lucros extraordinários”, completa.

 

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