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Mercado vê menor chance para queda dos juros; recuperação econômica deve ser prejudicada

O mercado reviu as estimativas para o corte dos juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no fim deste mês. Até ontem, o mercado esperava um corte de 1,25 ponto percentual, de 11,25% para 10%, e algumas casas já trabalhavam com um corte de 1,5 ponto. Agora, após as denúncias que ameaçam derrubar o presidente Michel Temer e adiar as reformas da Previdência e trabalhista, a projeção do mercado é de um corte de 0,25 ponto. A queda dos juros, que poderiam recuar até 7,5% este ano, era um dos fatores que ajudariam a melhorar a economia, que ainda apresenta sinais fracos de retomada.

Os juros futuros, que ontem indicavam taxas de 8% ao ano para 2019, estão agora acima de 10% ao ano. Para 2021, a projeção supera 11% ao ano novamente, depois de ter ficado abaixo de 10%.

Para um executivo de um importante grupo empresarial, o risco politico que já era o maior, agora ficou imponderável. “Se se confirmarem as gravações, parece que ficará inevitável a saída do presidente mesmo, e aí a confusão será total”, afirma. “As reformas param até às eleições do ano que vem, enfim, voltamos para trás”.  Segundo esse executivo, os mercados hoje “serão uma loucura, com todo mundo querendo fechar posições“.

Mercado sem referenciais

O mercado está sem probabilidades corretas porque os indicadores futuros estão quase todos nos limites de alta, afirma Pablo Stipanicic Spyer, diretor de Operações da Mirae Corretora. “Mas, se analisarmos assim, o mercado precifica 100% de chance de queda de apenas 25 pontos base na reunião do próximo Copom, dias 30 e 31 de maio”, explica, acrescentando que “vale notar que o mercado não está normal, então isso vai mudar”.

Poucas chances de corte

O banco alemão Deutsche Bank acredita que a enorme incerteza política deve elevar o risco-Brasil e os juros futuros. A baixa inflação e a fraqueza da economia em pequena recuperação ainda vão permitir ao BC reduzir os juros básicos, mas a alta do dólar pode se tornar um problema maior. Para o Deutsche, parece que o corte de 1,25 ponto no próximo Copom que o mercado esperava até ontem se tornou muito menos provável.

Risco é BC ter de subir juros

O país está sem comando, o que joga muita incerteza sobre os mercados e o futuro, afirma José Raymundo Faria Junior, diretor técnico da Wagner Investimentos. “Como será o Copom do dia 31 de maio?”, questiona, lembrando que a redução dependia da aprovação das reformas. “E se o dólar subir para a região dos R$ 3,50, por que não subir os juros, apesar de acharmos essa hipótese mais improvável?”.

“Brotos verdes” da recuperação podem morrer

Outra questão é como ficará a economia, alerta o consultor. “Esses ‘brotos verdes’ da recuperação podem morrer rapidamente”, alerta. Juros mais altos, risco-Brasil mais alto e dólar mais alta, além de queda das bolsas elevarão a alavancagem das empresas em meio à queda da confiança dos consumidores, que poderão reduzir suas compras”, afirma Faria Júnior. “Será que vamos voltar ao passado e ver novamente números negativos do consumo e PIB e continuação da alta do desemprego?”, questiona. “Como ficará a situação de alguns Estados, como Rio de Janeiro? Como ficará a crise social dos cariocas?”, afirma.

Incerteza no futuro político

Faria Júnior lembra também que o cenário político aumenta a indefinição, com dúvidas sobre como será a saída de Temer e a forma de escolha de seu sucessor. “Quem vai assumir, Fernando Henrique Cardoso, em meio à prisão do presidente do seu partido? Ou Nelson Jobim, ou a presidente do Supremo, Carmem Lúcia? Algum deles vai conseguir tocar a reforma em meio a um Congresso preocupado com a eleição de 2018 (ou de 2017)?” alerta.

Implicações para a eleição de 2018

Já o Deutsche destaca ainda que as denuncias terão implicações importantes para a eleição de 2018. Com a imagem dos políticos seriamente abalada, as chances de um nome não tradicional, um outsider, ser eleito é muito maior. Em teoria, isso poderia ajudar na candidatura do prefeito de São Paulo, João Dória Junior, que apesar de ser do PSDB do senador afastado Aécio Neves, que caiu em desgraça hoje também, é distante da liderança do partido.

A enorme instabilidade política pode também beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Deutsche espera que o Partido dos Trabalhadores lidere um movimento por eleições diretas já. O movimento terá de conquistar, porém, apoio de outros partidos, já que o PT hoje não tem maioria no Congresso. O Deutsche acha difícil a eleição direta.

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