Ações na Arena, Corretoras

Inovar é preciso e CGD, ex-Banif, muda home broker para DirectaInvest e amplia serviços

A corretora CGD, antiga Banif, prepara para lançar ao mar seu novo home broker. Aproveitando a troca dos controladores – foram-se os portugueses do Banif, chegaram os da estatal Caixa Geral de Depósitos (CGD) – a corretora, uma das líderes do mercado de varejo local, está trocando neste fim de outubro o nome do serviço, hoje Banifinvest, para DirectaInvest, marcando assim a nova etapa, explica Bruno Di Giorgio,  superintendente de marketing. “Teríamos de inovar os sistemas operacionais de qualquer jeito, e aproveitamos para lançar uma nova marca”, diz. Para os clientes, avisa, a mudança será imperceptível e todos os serviços continuarão normalmente.

As mudanças na CGD ocorrem em um momento de mares revoltos para as corretoras brasileiras, especialmente as voltadas para o varejo. O número de investidores pessoa física em ações segue em queda, acompanhando a má performance do mercado nos últimos anos sob o impacto da crise internacional.

Mesmo assim, os novos controladores dão um voto de confiança ao mercado brasileiro, com planos ambiciosos de ampliação de serviços e áreas de atuação, explica Fabio Feola, diretor-presidente da CGD Securities. Um sinal dessa confiança nos rumos traçados para a corretora é que o comando segue praticamente o mesmo, explica Feola, com ele, Eduardo Ippolito como diretor operacional, Everson Ramos como diretor de tecnologia, Izabel Franco na diretoria administrativa e Di Giorgio no marketing. Juntou-se à tripulação apenas Filipe Passinhas, que veio representar a CGD Investimentos e comandar a área de vendas e pesquisa.

Feola destaca que a rota da CGD será mantida, com o foco no home broker e no varejo, que fizeram a corretora ser reconhecida no mercado. Mas haverá um esforço extra para desenvolver a parte institucional que, admite, era deficitária. “A CGD traz para nós uma grande experiência internacional para ampliarmos nossa presença nessa área, de grandes investidores, complementando o varejo, onde já somos líderes”, diz.

Como não dá para navegar em mares revoltos sem estudar os ventos, a corretora está investindo na área de research,  que já tem sete analistas de empresas e mais um economista-chefe. A área conta ainda com a ajuda de além-mar de três analistas em Portugal, que cuidam de grandes setores globais, acrescenta Passinhas, responsável pela área. “Ampliamos nossa cobertura aqui de 20 para 50 empresas e vamos usar a experiência dos estrategistas lá de fora também”, diz.

A cobertura local é importante especialmente por abranger empresas de menor porte, que escapam do radar dos analistas internacionais, afirma Passinhas. “Agregamos valor à nossa cobertura com essas empresas, que puxaram o mercado brasileiro nos últimos anos, caso do setor de consumo, por exemplo”, diz. “Uma Petrobras, uma Vale ou OGX podem ser acompanhadas de fora, mas setores voltados ao mercado interno é mais difícil.”.

Com a CGD, a corretora poderá oferecer aos clientes também outras rotas para oferecer seus papéis no exterior, usando o caminho da European Securities Network  (ESN), entidade que reúne dez instituições financeiras de dez países – Portugal, Espanha, Itália, Bélgica,França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Finlândia e Holanda – e acompanha 800 companhias europeias.”Poderemos oferecer aplicações e investimentos e análises de empresas brasileiras para fundos nesses países”, diz Passinhas.

Além da pesquisa de empresas, a área de atacado está sendo incrementada com a contratação de especialistas em mercados mais sofisticados para atrair os grandes investidores. “Trouxemos de outra corretora uma equipe inteira especializada em montar operações estruturadas nos mercados de opções de ações e opções de Ibovespa”, afirma Ippolito. Hoje, segundo ele, apenas quatro casas têm equipes com essa expertise. “E estamos estudando montar algo nessa linha, algo diferente, também no Rio”, acrescenta. O objetivo é oferecer um diferencial de investimento para os grandes clientes, que querem sair do arroz com feijão da simples compra e venda de ações.

Outra aposta da corretora tem a ver com a própria situação do mercado. “O setor de corretoras está doente, combalido, olhamos em volta e vemos muitas casas com prejuízos, reduzindo estruturas”, afirma Feola. Isso deu início a um processo de consolidação, de fusões e vendas de corretoras como forma de reduzir custos. “Há também uma maior cautela dos profissionais do mercado, dos agentes autônomos, em trocar de emprego, e até das corretoras em negociar novas parcerias, pois depois essa empresa pode mudar os planos, se fundir ou fechar”, diz.

Aproveitando essa situação de penúria e a experiência em home broker, a CGD passou a oferecer serviços de tecnologia para outras instituições que desejam ter sistemas de investimento em bolsa para seus clientes e não querem investir em uma estrutura própria ou na abertura de uma corretora. “Fizemos isso há dois anos com o Banestes, criando um portal que oferecia home broker para a base de clientes deles com o nome do banco”, diz o diretor de tecnologia Everson Ramos. “É o que lá fora é chamado de “white label”, ou rótulo em branco, em que a corretora terceiriza sua plataforma com serviços de outro fornecedor especializado em seu nome, sem que o cliente saiba”, explica.

Depois do Banestes, foi a vez da Máxima DTVM passar a usar a plataforma da CGD. “Ela continua com a marca, que se perderia numa fusão, e com seus relacionamentos com os clientes, só deixa que a infraestrutura de negociação e liquidação fique com a gente, com um custo menor”, explica Feola. Com isso, a CGD assume o papel que no exterior é chamado de “prime broker”, que presta serviços operacionais para outra instituição.

Segundo Feola, há outras cinco instituições negociando com a CGD adotar o mesmo sistema de terceirização de sistemas de home broker e de serviços de liquidação. Para ele, a tendência é que cada vez mais o mercado passe a adotar essas estruturas terceirizadas de serviços, como forma de reduzir custos e das instituições se concentrarem nas áreas em que são mais eficiente.  “A corretagem virou uma commoditie, quem define o preço não é o fornecedor, mas o mercado, e é preciso se adaptar a isso”, diz. Por isso, o mercado precisa se reinventar e buscar alternativas de receita em outros serviços.

No caso da CGD, são os serviços adjacentes, como análise de empresas, plataformas amigáveis, veículos para investidores trazerem dinheiro para o Brasil, fundos exclusivos, gestão para family offices e infraestrutura para corretoras. “Tudo isso acaba canalizando fluxos de recursos para nós e acaba também resultando em mais corretagem”, afirma Feola.

Hoje, a CGD tem 59 mil contas de clientes, dos quais 37 mil são considerados ativos. Mas os cadastros chegam a 90 mil, estima Di Giorgio. “Sofremos como todo o mercado, mas conseguimos ainda manter uma boa base, também usando alternativas, como oferecer o Tesouro Direto para quem não queria mais ações”, afirma o executivo. Segundo ele, a CGD é hoje uma das maiores corretoras do Tesouro Direto, com R$ 1,2 bilhão de patrimônio. “E quando a bolsa dá sinais de alta, parte desse dinheiro migra dos títulos públicos para ações de novo”, diz Di Giorgio. Mas a abertura de novas contas segue devagar. “Abrimos hoje 20, 30 cadastros, para 200 antes de 2008”, diz.

A aposta, porém, é de que essa situação vai mudar. “Estamos em um ciclo de juros mais baixos com inflação ainda alta, o que tende a favorecer a bolsa, basta que o cenário externo dê algum sinal de melhora”, afirma Feola.

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