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Goldfajn: cenário indica continuidade da redução dos juros, apesar dos riscos

Com expectativas de inflação estabilizadas, projeções de inflação em torno da meta para 2018 e um pouco abaixo da meta para 2017, e elevado grau de ociosidade na economia, o cenário prescreve a continuidade do ciclo de queda dos juros básicos, já considerando os atuais riscos em torno do cenário e as estimativas de extensão do ciclo. A afirmação é do presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, durante encontro com investidores institucionais promovido pelo Bradesco. Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que vai reduzir o ritmo de corte dos juros, de 1 ponto para 0,75 ponto percentual por reunião. Hoje, os juros básicos, a chamada taxa Selic, estão em 10,25% ao ano e a previsão do mercado é de que cheguem a 8,5% no fim deste ano.

Segundo Goldfajn, a extensão do ciclo de flexibilização monetária, ou seja, o tamanho final do corte dos juros, dependerá da evolução da atividade econômica, dos fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação para 2018 e 2019, mas também das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira. Essa taxa estrutural é a que permite o crescimento da economia sem um descontrole inflacionário, e depende de fatores como a redução da dívida pública, o controle dos gastos do governo e, indiretamente, da reforma da Previdência.

Segundo ele, o  aumento recente da incerteza associada à evolução do processo de reformas e de ajustes necessários na economia brasileira dificulta a queda mais célere das estimativas da taxa de juros estrutural e as torna mais incertas. “Essas estimativas naturalmente envolvem incerteza e poderão ser reavaliadas ao longo do tempo”, afirma Goldfajn, deixando aberta a possibilidade de mudanças na estratégia do banco.

Riscos para a queda dos juros

Segundo Goldfajn, é necessário acompanhar possíveis impactos do aumento de incerteza recente sobre a trajetória  da inflação. A manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade econômica e, portanto, um efeito de queda dos preços, ou seja, desinflacionário.

Ao mesmo tempo, o impacto da incerteza sobre a formação de preços e sobre as estimativas da taxa de juros estrutural pode ter impacto oposto. Nesse caso, entra a votação da Previdência, que influenciaria o ajuste fiscal e impediria uma queda mais consistente dos juros, diante da possibilidade de o governo voltar a gastar demais e ter de apelar para o endividamento.

Existe também a possibilidade de que os dois efeitos se anulem e a trajetória da inflação siga como antes da crise política, avalia Goldfajn.  De forma geral, as projeções condicionais do Copom hoje envolvem maior grau de incerteza, explica.

Aumento de incertezas sobre reformas

Segundo ele, o fator de risco principal é o aumento de incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e de ajustes na economia. Isso se dá tanto pela maior probabilidade de cenários que dificultem esse processo quanto pela dificuldade de avaliação dos efeitos desses cenários sobre os determinantes da inflação.

Entre os determinantes, destacam-se a atividade econômica, as expectativas de inflação, as estimativas da taxa de juros estrutural e os preços de ativos financeiros relevantes, caso do dólar, que se subir demais pode pressionar os preços e a inflação.

Há ainda outros riscos, observa Goldfajn, entre eles, o cenário externo, apesar de favorável no momento, apresenta considerável grau de incerteza e pode dificultar o processo de desinflação. Já a desinflação dos preços de alimentos e de preços industriais pode ter efeitos secundários na inflação. Notadamente, pode contribuir para quedas adicionais das expectativas de inflação e da inflação em outros setores da economia.

A atividade econômica também dá sinais de estabilização no curto prazo e perspectiva de recuperação, mas a retomada da economia pode ser mais (ou menos) demorada e gradual do que a antecipada.

E a manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade econômica, alerta o presidente do BC.

Juros reais em baixa

As taxas de juros reais (juros nominais menos inflação) também estão em queda, apresentando percentuais próximos aos mínimos históricos, destaca Goldfajn. E várias medidas confirmam esse fato. Por exemplo, a taxa real ex-ante, ou seja, a taxa de juros prefixada projetada para 12 meses no mercado de swap DI menos inflação esperada também em 12 meses, chegou a alcançar 9% ao ano em setembro de 2015. Permaneceu relativamente estável ao longo de 2016, em torno de 7% ao ano, e desde dezembro de 2016 vem declinando, alcançando 4,5% ao ano atualmente. 

“Quando usamos a trajetória Selic prevista no Focus em vez dos juros prefixados para os próximos 12 meses para calcular os atuais juros reais, encontramos o valor de 4,3%”, diz Goldfajn.  Quando inferidos os juros reais dos títulos do Tesouro corrigidos pela inflação, as NTN-Bs negociados no mercado, houve declínio para o patamar atual de 5,2%.

Goldfajn lembra que o patamar atual de taxa de juros real (4,3% a 5,2%) é baixo do ponto de vista histórico. A taxa de juros real na economia brasileira oscilou nas últimas décadas, mas apresenta clara tendência de queda. As taxas reais acima de 20% na década de 90 passaram para em torno de 10% na década passada e chegaram a uma média de 5% nos últimos anos (considerando o período insustentável de juros reais de 2% no governo anterior).

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