Ações na Arena, Corretoras

Foco em ações prejudica resultados de corretoras, mostra estudo

Os ganhos das corretoras possuem uma correlação muito grande com o volume negociado de ações na bolsa e a tendência do Índice Bovespa. Ou seja, quanto pior a bolsa e menor os volumes, maiores as perdas das corretoras. Por isso, a saída é reduzir a dependência do mercado de ações buscando outros nichos, como fizeram as corretoras americanas, aproveitando também parcerias com outras instituições para reduzir custos.

Essas foram algumas das conclusões de um estudo divulgado hoje pela Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras (Ancord), com base em consultas feitas durante o I Congresso Internacional da Indústria da Intermediação.

Segundo José David Martins Junior, diretor superintendente da Ancord, as corretoras neste ano ainda apresentam resultados financeiros sofríveis. “A situação das corretoras piorou muito em 2011 e 2012 e este ano temos um forte indicador de que os resultados serão similares”, disse, durante teleconferência. “Acreditamos em reversão, mas isso vai depender do mercado internacional, que está melhorando, mas ainda tem problemas difíceis de resolver, e isso impacta a situação do nosso mercado de ações e as corretoras.”

Álvaro Mendonça, responsável pelo Congresso e consultor da Algus Hedge, destaca o estudo feito por Marcelo Verdini Maia, do Ibmec Rio, mostrando que a alta do Ibovespa explica 74% do resultado operacional e 94% das receitas de prestação de serviços das corretoras. Já o volume da bolsa tem uma relação de mais de 90% com as receitas e resultados das instituições. “Isso mostra que as corretoras brasileiras estão muito focadas em negociar ações, e outras aplicações, como renda fixa, fundos, papéis de empresas, não estão sendo tratadas adequadamente”, diz.

Ele vê um espaço grande para as corretoras atuarem nos segmentos de infraestrutura e agronegócios, que terão mais papéis emitidos no mercado. “São nichos ainda pouco explorados”, afirma.

Martins destaca também a tendência de maior cooperação entre as corretoras, compartilhando estruturas para reduzir custos e obter mais sinergia. Essa seria uma alternativa à consolidação do setor e ao aumento as fusões e aquisições. É uma opção também para a maior especialização das corretoras, que podem dividir serviços.

Na questão da diversificação, Martins destaca o projeto da Cetip de criar uma plataforma para venda de ativos de renda fixa, como CDBs de bancos, e que poderá ser usada pelas corretoras. “O  aumento do valor de garantia do Fundo Garantidor de Crédito de R$ 75 mil para R$ 250 mil na semana passada vai ajudar quem quer aplicar em CDBs de bancos menores para ganhar mais a correr menos risco, e deve incentivar esse sistema”, explica.

Para o consultor André Cappon, do CBM Group,  o Brasil pode seguir o exemplo do mercado financeiro internacional, de maior diversificação e especialização de serviços.

Lá fora, as corretoras partiram para a especialização e muitas nem sequer precisam de retaguarda (backoffice) para registrar os negócios, pois usam os sistemas de terceiros que só fazem isso. “O mesmo aconteceu com as áreas de research (pesquisa de empresas), que antes era um negócio interno de cada corretora e agora são empresas independentes que dividem a corretagem com quem executa as ordens”, diz.

Segundo Cappon, o problema das corretoras brasileiras é a grande concentração em ações. “A tendência é de elas começarem a oferecer várias alternativas de aplicação, abrir novas opções para o investidor, e o mercado vai escolher as melhores em cada segmento”, diz.

A especialização, porém, não quer dizer que não sejam viáveis casas que trabalhem com diversos serviços a mesmo tempo, afirma Martins. “A tendência é de as corretoras buscarem maior especialização, mas há casas que buscam ser shopping centers financeiros e há caminhos para todos.”

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