Ações na Arena, Derivativos

Ex-diretor financeiro da Aracruz paga R$ 1,5 milhão para encerrar processo

O ex-diretor financeiro da Aracruz Isac Zagury fez um acordo para encerrar o processo envolvendo o uso de derivativos que acabaram levando a companhia quase à falência em 2008.

O acordo prevê que Zagury, um dos mais respeitados executivos do mercado, com 26 anos de trabalho no BNDES, onde chegou a ser vice-presidente,  pagará R$ 1,5 milhão de multa, segundo Termo de Ajustamento de Conduta celebrado com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Ministério Público Federal (MPF).

Metade do valor irá para a CVM e o restante para o Fundo de Defesa de Interesses Difusos do MPF.

Zagury tinha forte militância na área de governança corporativa, o que tornou a Aracruz um modelo para o mercado. A companhia era normalmente a primeira a divulgar seus resultados trimestrais, sempre de forma bastante transparente. Por isso a surpresa com o caso das perdas com os derivativos.

Falta de informação sobre contratos

Zagury foi acusado de não ter informado nas Notas Explicativas do balanço da Aracruz de junho de 2008 das operações chamadas de Sell Target Forward (STF), deixando de evidenciar o valor de mercado desses derivativos  e de explicar seu cálculo. Além disso, o ex-diretor foi acusado de falta de diligência e cuidado na contratação do STF, “com consequente extrapolação do limite de exposição estabelecido pela política financeira aprovada pelo conselho de administração”.

A CVM e o Ministério Público concordaram em encerrar os processos mediante o acordo.

Derivativos quebraram Sadia e Aracruz

O caso envolvendo derivativos da Aracruz ocorreu em 2008, quando a eclosão da crise internacional dos empréstimos subprime nos Estados Unidos provocou a disparada do dólar. A alta da moeda americana provocou fortes perdas para a Aracruz e para a Sadia, que utilizada o mesmo tipo de derivativo. As duas empresa praticamente quebraram. A Aracruz foi alvo de uma reestruturação que deu origem à Fíbria, enquanto a Sadia foi incorporada pela Perdigão, criando a BR Foods.

A perda da Aracruz com os derivativos foi estimada em US$ 2,3 bilhões (cerca de R$ 5 bilhões). A Sadia teve uma perda de R$ 2,550 bilhões.

Empresas menores também perderam

Mas Sadia e Perdigão foram apenas as empresas mais famosas que perderam muito dinheiro com esse tipo de derivativo. Muitas empresas menores também tiveram prejuízo com o mesmo tipo de derivativo.

“Os bancos ofereciam essa operação como se fosse uma aplicação financeira, que rendia um pouco mais que o CDI, mas não alertavam para o risco de prejuízos muito elevados caso o dólar disparasse”, afirma um advogado que defendeu algumas empresas de menor porte em ações contra bancos. Havia casos até de postos de gasolina que fizeram a operação.

Target forward, risco desproporcional ao retorno

A operação que praticamente quebrou Aracruz e Sadia é conhecida no mercado como Target Forward. Nela, as empresas definem um valor para a moeda americana pela qual venderão seus dólares a cada mês, chamado de strike.

Caso o dólar ficasse abaixo do strike, a empresa poderia vender os dólares para a instituição financeira pelo valor de referência, ganhando a diferença. Mas se a moeda superasse o valor do strike, a empresa teria de pagar duas vezes a quantidade de dólares para o banco.
Assim, a empresa assumia um risco muito maior de perdas, praticamente sem limites e de impacto  imediato, enquanto seu ganho era limitado.

Além disso, os contratos estabeleciam limites de ganho para as empresas, mas não para os bancos.

Tudo bem com dólar estável

Enquanto o dólar ficou estável ou caindo, cenário anterior à crise de 2008, as empresas ganharam percentuais pouco acima do CDI, o que era muito bem-visto pelos conselheiros e donos. Mas ninguém atentou para o risco de uma virada do cenário e para o impacto sobre os contratos.

Além de Zagury, vários conselheiros da Aracruz e da Sadia também fizeram acordos para encerrar processos movidos pela CVM por falta de diligência, já que não perceberam os riscos que as empresas estavam correndo com derivativos.

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