Criado como uma plataforma para ajudar as pessoas a organizarem suas contas de maneira automática, o Guiabolso já conta com 3,2 milhões de usuários em pouco mais de dois anos e agora está ampliando sua atuação, passando também a oferecer crédito.
Para Thiago Alvarez, presidente e um dos criadores do Guiabolso, trata-se do amadurecimento da empresa. “Nosso foco é resolver os problemas e transformar a vida financeira das pessoas e, com as planilhas e os sistemas, já tínhamos grande impacto na vida delas”, explica. “Mas vimos que poderíamos nos aprofundar mais, já que a maioria usa crédito, na forma de cheque especial ou cartões, e poderíamos oferecer opções mais baratas, complementando o processo”, explica. Além do serviço ao usuário, a oferta de crédito representará uma fonte de ganhos para o Guiabolso, que não cobra pelos serviços de controle das contas, mas terá comissão nos empréstimos.
Para levar adiante esse processo, o Guiabolso fechou parcerias com cinco instituições diferentes de crédito e criou um algoritmo que analisa o perfil do interessado e busca a melhor opção de taxa e prazo e qual a instituição que dá maiores chances de aprovação de crédito para aquele cliente. O crédito depende da aprovação do terceiro, ou seja, da financeira parceira, explica Alvarez.
O Guiabolso vem se mostrando um sucesso ao oferecer um programa gratuito que ajuda as famílias a organizarem suas contas, por meio de planilhas automáticas que buscam os dados das pessoas nos bancos. Esses dados são organizados para que as pessoas possam identificar mais facilmente onde estão gastando mais.
Um terço usam cheque especial
Do total de 3,2 milhões de usuários do Guiabolso, 35% usam o cheque especial e 15% o rotativo do cartão de crédito. “E não há muita diferença por faixa de renda, o perfil é parecido para baixa ou alta renda”, afirma Alvarez.
O sistema de crédito começou em fevereiro e prevê financiamentos de até R$ 50 mil com prazos de até 24 meses. O limite de comprometimento da renda vai até 15%. A ideia também é ajudar quem ainda não está no cheque especial ou no rotativo. “Temos de ajudar antes do descontrole, porque depois a saída é só renegociar”, diz.
Pesquisas mostram melhora no perfil dos usuários
Com dois anos de vida, o serviço já consegue avaliar seu impacto nos orçamentos dos usuários. Foram feitas três pesquisas. A primeira, comparando a situação financeira antes e depois do uso do sistema. “Temos acesso ao histórico de três meses antes de a pessoa aderir ao nosso sistema, então conseguimos comparar com os quatro meses seguintes”, explica Alvarez. A pesquisa mostrou que quatro meses após aderir ao Guiabolso, as pessoas passam a economizar 2,5 vezes mais. “Estimamos uma economia média de R$ 470 reais por mês, o que dá quase R$ 6 mil por ano”, afirma o executivo.
Queda de 25% no uso do cheque especial
A pesquisa mostrou também que há uma redução de 25% no número de pessoas que usam o cheque especial após o aumento dos controles. Além disso, há um aumento de 15% nas pessoas investindo. “Não é só sobrar dinheiro, é aplicar”, afirma Alvarez, acrescentando que mais da metade aplicam em poupança, fundos DI e de previdência.
Aviso reduz inadimplência
A segunda pesquisa foi feita em parceria com a Universidade Kellogg, dos Estados Unidos, especializada em gestão. “Fizemos um experimento e criamos um grupo de controle, que recebeu avisos de vencimento da fatura do cartão”, afirma Alvarez. O resultado é que a inadimplência desse grupo caiu 11% em relação aos demais. A partir de então, o Guiabolso passou a enviar avisos de vencimento das faturas para os usuários.
Maior controle das contas
A terceira pesquisa levou em conta os usuários que começaram a usar o sistema em 2015 e sua situação financeira naquela época. Depois, o sistema avaliou como estavam esses mesmos usuários em2016 em termos de inadimplência e quantas vezes eles acessaram o Guiabolso e as funções que usaram. “A conclusão foi que quanto mais a pessoa usou o sistema, menos problema teve de inadimplência”, afirma Alvarez. “Nossa conclusão é que funcionamos como um painel de carro, mostramos a situação financeira para a pessoa, mas ela continua dirigindo, tem de gerenciar suas contas, e se gerencia mal, acaba inadimplente”, afirma o executivo.
Erros comuns na gestão das contas
Alguns erros comuns do brasileiro são superestimar a renda, achando que podem assumir mais compromissos do que realmente conseguem pagar. Outro engano comum é confundir o limite do cheque especial com salário, ou não controlar os gastos com cartão na hora da compra. “Muitos não sabem quanto pagam de aluguel, superestimam os ganhos e subestimam os compromissos”, diz Benjamin Gleason, sócio fundador do Guiabolso. Há ainda os casais que não se falam sobre dinheiro. “E o sistema pode ligar a conta corrente da mulher com a do marido”, diz. “Mas não somos um serviço de educação financeira, apenas demos o painel do carro para a pessoa olhar”, compara. “Agora, com o crédito, colocamos um ‘airbag’ para o caso de a pessoa sofrer um acidente”, diz Gleason.
Crédito para emergências
A ideia é que as linhas de crédito sirvam para atender emergências dos usuários e para reduzir o custo com linhas mais caras, como cheque especial ou cartão de crédito. Muitas vezes, diz Alvarez, as pessoas se veem reféns dos bancos por alguma emergência financeira, como uma reforma mais cara que o estimado ou uma separação ou uma doença. “É uma experiência muito ruim ter de recorrer ao banco nessa situação de fragilidade e alguns gerentes se aproveitam disso”, diz.
Por isso, o sistema do Guiabolso faz as avaliações de crédito automaticamente e o tomador fala com o banco já tendo um crédito pré-avaliado e já sabendo das condições que pode obter. “Usamos o cálculo do custo efetivo de crédito, que inclui todas as tarifas, para o tomador comparar e saber exatamente quanto vai pagar”, diz. A contratação também é feita pela internet, com envio de foto dos documentos para aprovação.
O fato do tomador ser usuário do Guiabolso serve também como facilitador para a aprovação do crédito, diz Alvarez. “Funcionamos como um birô de crédito positivo, pois temos as informações financeiras das pessoas e, além disso, o fato de usarem o sistema para controlar suas contas reduz as não aprovações de crédito”, explica. Foram criados sistemas para interligar o Guiabolso com os sistemas dos bancos para garantir também segurança das informações, afirma Alvarez.
Taxas mais baixas
Em troca da seletividade do cliente, as instituições financeiras, em geral de menor porte, oferecem taxas mais baixas. “O custo chega a ser um oitavo ou 1/12 avos do pago no cheque especial”, diz. Além disso, o crédito acompanha um seguro prestamista, para o caso de a pessoa perder o emprego. “E a aprovação é rápida, minutos apenas, para vencer a inércia da pessoa usar o cheque especial porque é mais fácil”, diz.
Detector de endividados
O Guiabolso montou um sistema que envia mensagens oferecendo o crédito para quem usa o cheque especial de maneira contínua, acima de R$ 1 mil, ou para quem tem dívidas no rotativo do cartão de crédito.