Ações, Ações na Arena

Artigo: Artimanha ou vagalume? Como subir a ladeira sem deixar o motor do PIB morrer

Aprendi a dirigir com 15 anos. Desde então, sou fascinado por automóveis e técnicas de pilotagem. Uma delas diz respeito à saída da inércia em uma ladeira. Nos dias atuais, os carros modernos possuem assistência de saída em rampa, é fácil. Na minha época, quando a tecnologia ainda não permitia, usávamos a seguinte artimanha: pé esquerdo em meia força na embreagem, pé direito com calcanhar no freio e bico do sapato no acelerador. Essa manobra ensejava algum treino, mas nada impossível de realizar.

Após seis meses de governo Michel Temer, ainda não conseguimos reverter a recessão da nossa economia, e o cenário permanece nebuloso, pois, até onde a vista alcança, a situação não parece se alterar. O desemprego vai aumentar, e o crescimento foi adiado para meados de 2017. O principal indicador da economia, o PIB, já apresenta sete trimestres consecutivos de queda continuada, e o nível de investimentos, bem como o consumo familiar, estão no atoleiro. Mas por que a esperança de reversão feneceu tão rapidamente?

Tenho ouvido a expressão “contração expansionista”, para diagnosticar a política macroeconômica da equipe capitaneada por Henrique Meireles. Explicando o termo, “contração expansionista” é uma antítese, com eufemismo. Confuso, não? Para não escancarar que a situação encontrada no lado fiscal era mais que trágica, a equipe passou a “vender” a ideia de que, para melhorar, era preciso acertar minimamente as contas, aprovando a PEC dos gastos e sugerindo reformas, como a da previdência. Tais medidas são contracionistas. Porém, na visão da equipe econômica, a melhora nas expectativas dos agentes econômicos empurraria o investimento privado para cima e voltaríamos, gradativamente, a crescer. Não aconteceu!

O problema é que a sociedade está impaciente. Não quer esperar muito tempo. Dilma, no início do seu segundo mandato, também pediu paciência, pois Joaquim Levy ia acertar o desajuste fiscal do seu primeiro governo. Não houve tempo, e a troca por Nélson Barbosa foi uma esperança vã, pois também não vingou.

Agora, o próprio presidente Temer parece incomodado com o eufemismo de seus assessores, e vem sugerindo conversar com outros economistas, como Armínio Fraga, para buscar alternativas. Não penso que seja uma estratégia interessante, pois, se esvaziar sua equipe econômica, o tiro deverá sair pela culatra. Criaremos novos “Levys”.

Qualquer economista bem formado sabe o que fazer. O problema é se a equipe está confortável o suficiente para ser audaz, como a urgência da situação requer, uma vez que o paciente está moribundo.

A PEC do teto, já aprovada, é uma medida importante, mas não suficiente para uma reversão sustentada, pois o pior problema é a previdência. Se nada for feito, em menos de uma década o buraco com aposentadorias, mais o pagamento da folha salarial do governo, consumirá toda a receita. Não haverá dinheiro para mais nada neste país.

Com o que fizemos, até agora, há uma luz no fim do túnel. Porém, é muito fraquinha, comparável a um vaga-lume. É preciso oxigenar fortemente o ambiente econômico. O Banco Central precisa, com audácia, promover reduções mais agressivas na Selic, pois, com a recessão atual e a enorme capacidade ociosa, a inflação não deve ameaçar, o que lhe abre uma janela de oportunidade. Enquanto isso, vamos tocando as reformas de frente no Congresso, sem tergiversar, para que o lado fiscal faça sua parte e voltemos a um ciclo virtuoso. A verdade é que precisamos da artimanha, do pé no freio e no acelerador, para ir controlando a saída desse abismo.

Alexandre Espirito Santo é economista da Órama e professor do IBMEC-RJ. E-mail: [email protected]. As informações refletem exclusivamente as opiniões do autor. O Portal do Pavini não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas com base nessas informações.

Artigo AnteriorPróximo Artigo