Ações na Arena, ETFs

Ação é coisa do passado; dos dez papéis mais negociados nos EUA, sete são ETFs

Esqueça as ações. Quem manda no maior mercado de valores do mundo são os Exchange Traded Funds (ETF), fundos que reproduzem os principais  índices do mercado acionário ou de commodities e que negociam suas cotas como se fosse ações. Relatório feito pelo Credit Suisse mostra que, dos dez papéis mais negociados no ano passado nas bolsas dos Estados Unidos, apenas três eram ações. Os demais eram ETFs, que trazem algumas vantagens para o investidor, como comprar em uma cota do fundo uma carteira completa com os principais papéis da bolsa por um valor muito menor. E ainda vendê-la com facilidade.

Segundo o CS, há três anos, em 2013, a situação era diferente. Dos 10 papéis mais negociados, três eram ETF.

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Como mostra o gráfico acima, o papel mais negociado no ano passado ainda foi uma ação (em vermelho), do Bank of America, o maior banco americano. Mas, logo em seguida, vem o ETF (em azul) do Índice Standard & Poor’s 500. Depois vem o ETF de ouro, de mercados emergentes, o VIX, que é o índice que mede a volatilidade do S&P 500, o ETF de instituições financeiras e, finalmente, duas ações, da Cheasapeake Energy e da Sirius. Logo depois, voltam os ETF de petróleo e uma variação alavancada (2 vezes) do VIX.

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Já se a referência for o volume financeiro que esses ativos movimentaram no ano passado, a situação melhora para as ações e há um empate, como mostra o gráfico acima. Dos dez maiores volumes de 2016, cinco são ações e cinco são ETF. A liderança em volume é do ETF do S&P 500, seguido pela ação da Apple e depois pelos ETF do Índice Russell 2000, de pequenas empresas, e do ETF do Nasdaq, de tecnologia.

Depois aparecem as ações do Facebook e da Amazon e outros dois ETF, de mercados emergentes e ouro. Fecham a lista de maiores volumes as ações da Microsoft e do Bank of America.

Captação mundial cresceu 7,7%

Os números acompanham o crescimento dos ETF pelo mundo. Segundo a BlackRock, líder do mercado de ETF e dona da marca iShare, o setor global de fundos com cotas negociadas em bolsa fechou 2016 com uma captação líquida de US$ 375 bilhões, superando em 7,7% os US$ 348 bilhões de 2015. Desse total, a BlackRock respondeu por US$ 140 bilhões.

Crescimento maior que ações

Os dados reforçam a tendência de dominância dos ETF nos negócios diários do mercado americano. Segundo o CS, o volume negociado de ETF cresceu quase 17% em 2016 sobre 2015 e 50% sobre 2014, enquanto o de ações aumentou apenas 7% sobre 2014. Porém, a maior parte desse crescimento se deu em ETFs não ligados a ações. Os de commodities aumentaram seu volume em 170% de 2014 para cá, os alternativos, como o de volatilidade (VIX) cresceram 100% e os de renda fixa, que podem estrear no Brasil este ano, quase 70%.

Fatia ainda pequena no total

Apesar do forte crescimento e do destaque nas negociações, os ETF ainda representam uma parcela pequena do volume total negociado no mercado. O banco suíço estima que os ETFs respondem hoje por 30% do valor ($value)movimentado pelo mercado americano, incluindo contratos futuros, e 23% do número de negócios com ações (share) nas bolsas americanas, conforme mostra o gráfico abaixo.

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Outros ativos também cresceram seu volume de operações no ano passado. Os ETF aumentaram o volume em 15%, mas os negócios futuros também cresceram, 12% sobre 2015. Já o mercado de opções teve queda no número de negócios pelo terceiro ano, conforme mostra o gráfico abaixo, com a média diária de negócios por tipo de produto.

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Obs.: Stocks = ações, Options = mercado de opções, Futures = mercados futuros.

Fundos passivos ganham espaço

O CS mostrou também que os fundos passivos, que apenas seguem determinado índice ou produto, dos quais os ETF são uma variação, vêm ganhando espaço no mercado e já representam mais de 40% do total em fundos nos EUA. O primeiro gráfico, abaixo à esquerda mostra a fatia de fundos passivos e ativos no mercado. Já o segundo mostra os fluxos para esses tipos de fundos a cada ano.

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Mais ETF e menos empresas nos EUA

O relatório mostra ainda que o número de empresas listadas nos EUA está caindo, com mais companhias preferindo continuar fechadas nos últimos 20 anos. Apesar disso, o valor de mercado das empresas americanas atingiu o maior nível da história no ano passado, com US$ 25 trilhões. A consequência disso é que há mais grandes empresas no mercado do que há 20 anos e o tamanho médio das companhias abertas é o maior da história.

Ao mesmo tempo, o número de ETFs listados é o maior desde seu início, nos anos 2000.

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Obs.: As colunas cinza mostram o valor de mercado das empresas em bolsa nos EUA. A linha azul representa as novas listagens de ações. A vermelha, novas listagens de ETFs.

No Brasil, ainda engatinhando

No Brasil, os ETF ainda são pouco expressivos no mercado, apesar de sua grande flexibilidade para pequenos investidores pessoas físicas. No ano passado, os 15 ETFs brasileiros giraram R$ 150,8 milhões por dia, 5% mais que os R$ 143,6 milhões de 2015, mas um valor ínfimo diante do volume médio da Bovespa, de R$ 7,4 bilhões em ações.

A média de negócios foi de 8.995 por dia, 6,3% menor que os 9.599 negócios diários de 2015. No ano, a média geral da BM&FBovespa com ações foi de 981 mil negócios por dia.

O ETF mais negociado é o que reproduz o Índice Bovespa, o Bova11, que negociou R$ 132,7 milhões por dia no ano passado. Ele é também o maior ETF em  patrimônio, com R$ 1,849 bilhão em dezembro. Já o primeiro ETF do país, o PIBB, que replica o índice IBrX-50, tem o segundo maior patrimônio, com R$ 977 milhões, e registrou o segundo maior volume negociado em 2016, de R$ 12 milhões por dia.

No total, os ETFs brasileiros somam um patrimônio de R$ 3,892 bilhões.

A expectativa é de que o mercado de ETF cresça quando o Tesouro lançar seu ETF de renda fixa, o que pode acontecer ainda este ano.

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